Falar sobre o fim da vida é sempre delicado. Envolve emoções, espiritualidade, ciência e, principalmente, humanidade. Para muitos, a curiosidade sobre o que acontece com o corpo e a mente nesse momento é uma forma de lidar com a dor e compreender o processo de despedida. 

Entre os órgãos do corpo, o cérebro é talvez o mais intrigante. Afinal, ele concentra nossos pensamentos, memórias, emoções e identidade.

Vamos descobrir o que acontece com essa parte tão valiosa quando chegamos nos últimos momentos? Confira neste material que preparamos. 

 

O desligar gradual do cérebro

 

Diferente do que muitos imaginam, o cérebro não "desliga" de uma só vez. O processo é gradativo e pode variar bastante de pessoa para pessoa, dependendo das condições médicas, idade e outros fatores.

Em geral, nos momentos do fim da vida, os sistemas do corpo começam a falhar: o coração bate com menos força, a respiração se torna mais superficial e lenta, e a oxigenação do sangue diminui. Como o cérebro é extremamente sensível à falta de oxigênio, ele começa a ser afetado logo nos primeiros minutos dessa redução.

Conforme o fluxo sanguíneo diminui, áreas cerebrais vão perdendo função. Os primeiros sinais costumam ser a perda de consciência e a ausência de resposta a estímulos. No entanto, isso não significa que o cérebro está "desligado" por completo.

 

Consciência nos momentos de fim da vida

 

Por muitos anos, acreditou-se que a consciência desaparecia logo após o coração parar de bater. No entanto, estudos recentes mostram que o cérebro pode continuar ativo por um curto período, mesmo após a parada cardíaca.

Um estudo publicado em 2023 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) analisou pacientes em parada cardíaca em UTIs e revelou uma atividade cerebral coordenada em alguns deles, sugerindo que o cérebro ainda pode apresentar algum grau de consciência nos momentos finais. 

De acordo com os pesquisadores, essa atividade pode estar relacionada a memórias ou à experiência da partida, como é relatada por pessoas que passaram por "experiências de quase morte".

Essas descobertas ainda são iniciais e não significam que a pessoa sofre nesses instantes. Pelo contrário, muitos relatos descrevem sensações de paz, luz intensa e reencontros com entes queridos.

 

Experiências de “quase morte” e a atividade cerebral

 

As experiências de “quase morte”, frequentemente relatadas como sensações de flutuar fora do corpo, rever memórias ou entrar em um túnel de luz, têm intrigado a ciência por décadas. Ainda não há consenso sobre o que exatamente causa essas vivências, mas há hipóteses neurocientíficas.

Pesquisas com animais, como o estudo que citamos anteriormente, mostraram também que há um aumento súbito e breve da atividade elétrica no cérebro logo após a parada cardíaca. Isso poderia indicar uma espécie de “último esforço” do cérebro para compreender o que está acontecendo, ou uma reorganização neural antes do colapso completo.

Em humanos, essas observações são mais difíceis de captar. Ainda que a ciência não possa comprovar o conteúdo subjetivo dessas experiências, o que se sabe é que elas são reais para quem as vive.

 

O cérebro sente dor no fim da vida?

 

Essa é uma preocupação comum entre familiares de pacientes em cuidados paliativos. A resposta é reconfortante: quando o processo de fim da vida é acompanhado adequadamente, principalmente com o suporte de equipes de cuidados paliativos, a dor pode ser minimizada ou completamente aliviada.

Quando o cérebro começa a falhar, a percepção de dor diminui. Em estados de coma, por exemplo, o córtex cerebral (área responsável pela consciência e percepção) já não responde de forma ativa. Além disso, em casos de sedação paliativa, os pacientes ficam inconscientes, sem sensação de sofrimento.

O importante é lembrar que, nesses momentos, o conforto e a dignidade da pessoa devem estar em primeiro lugar. A ciência médica atual tem recursos para garantir que a passagem seja a mais tranquila possível.

 

O que dizer sobre as memórias e os pensamentos no fim da vida?

 

É natural se perguntar para onde vão as memórias, os pensamentos, o "eu", no momento de fim da vida. Para a neurociência, tudo isso está relacionado à atividade cerebral: nossas lembranças, identidade e emoções são processos bioquímicos que dependem do funcionamento de neurônios e redes neurais. Quando o cérebro para, todas essas funções também cessam.

No entanto, essa é uma questão que também atravessa a espiritualidade e as crenças pessoais. Muitas tradições religiosas acreditam na continuidade da alma, da consciência ou de uma essência que sobrevive à morte física. Para outras, a morte é um ciclo natural, e tudo retorna à natureza.

A ciência pode explicar até certo ponto. O restante é território da fé, das histórias que contamos, das homenagens que prestamos e do amor que permanece.

 

Fim da vida: um mistério com respeito e humanidade

 

Embora muito já se saiba sobre o que acontece com o cérebro no fim da vida, ainda há mistérios. Isso nos faz refletir sobre a importância de viver com propósito e amar com intensidade.

O fim da vida é um momento profundamente humano. Envolve despedida, mas também cuidado. É o instante em que o silêncio se torna eloquente e onde o carinho das mãos, o som de uma voz querida ou um último olhar carregam um significado imenso.

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